Por: Roque Tadeu Gui
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Trailer
Não obstante, a série é um sucesso de público (supõe-se que seja um público constituído sobretudo de jovens) e alcançou seu objetivo: levar milhões de adolescentes a assistirem o drama vivido por um grupo de adolescentes numa escola americana, curiosamente chamada Liberty (“Liberdade"), e envolvidos com o suicídio de Hanna.
Os produtores, diretores e roteiristas tiveram que enfrentar a controvérsia em torno da cena em que Hanna se suicida, cortando os pulsos, numa banheira, uma vez que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a não divulgação de cenas de suicídio,a fim de não estimular tentativas de auto extermínio.
Segundo informação obtida no site “Adoro Cinema”, a Nova Zelândia, país integrante da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que tem a mais elevada taxa de suicídios de jovens (dois adolescentes por semana), restringiu a exibição da série para maiores de 18 anos, permitindo aos menores de 16 e 17 anos somente quando acompanhados pelos pais.
O simples fato de ser uma série de grande audiência por parte de um público jovem demonstra que o tema é crítico e que os jovens desejam falar a respeito. Quanto ao temor de que a série, ao explicitar a cena de suicídio, possa contribuir para novos casos, temos o efeito positivo de que o volume de ligações para o Centro de Valorização da Vida (CVV) aumentou significantemente após a veiculação da série, com pessoas que ligaram declarando se identificar com o sofrimento de Hanna.
Hanna (Katherine Langford)
Uma breve sinopse: Uma caixa de sapatos é enviada para o jovem Clay (Dylan
Minnette) por Hannah (Katherine Langford), sua amiga de escola e de trabalho. Clay está
secretamente apaixonado por Hanna. O jovem se surpreende ao constatar o remetente,
pois Hannah acabara de se suicidar. Dentro da caixa, há várias fitas cassete, onde
a jovem lista os 13 motivos que a levaram a interromper sua vida, com instruções para que elas fossem passadas entre os demais envolvidos.
O que a Psicologia Analítica tem a dizer sobre um fenômeno cultural representado pela grande audiência desse série televisiva, abordando o tema do suicídio de uma jovem?
Certamente a Psicologia poderá endossar todos, ou nenhum, dos porquês expostos na série. As explicações psicológicas imediatas remetem a sentimentos de traição por parte de amigos, sentimento de solidão, falta de solidariedade entre jovens que estudam numa mesma escola, insegurança pessoal típica da adolescência, baixa autoestima, falta de esperança, assédio psicológico e sexual, culminando com a agressão do estupro. Razões que, sobretudo quando agrupadas, como induz o roteiro da série, ”explicariam" o ato de auto extermínio.
Mas, talvez seja interessante, mudarmos a perspectiva de análise. Poderíamos perguntar “para quê a alma conduz alguém ao suicídio”. Sim, porque, a despeito de todas as influências coercitivas sofridas por Hanna, algo nela decidiu pela morte. E isso é mais difícil de compreender porque é mais fácil nos refugiarmos nas possíveis causas psicopatológicas ou sociais de um ato considerado insano.
A questão do suicídio acompanha os seres humanos e a própria civilização. Temos suicídios por diferentes “motivações”: os chamados suicídios patológicos, movidos por profunda depressão, os suicídios produzidos pelo pânico, os altruístas, os religiosos, os políticos, e por aí vai.
O que um psicólogo pode afirmar é que o suicídio é uma possibilidade humana. A morte pode ser “escolhida", a despeito do conjunto de razões a que chamamos “causas” do
a jovem lista os 13 motivos que a levaram a interromper sua vida, com instruções para que elas fossem passadas entre os demais envolvidos.
O que a Psicologia Analítica tem a dizer sobre um fenômeno cultural representado pela grande audiência desse série televisiva, abordando o tema do suicídio de uma jovem?
Certamente a Psicologia poderá endossar todos, ou nenhum, dos porquês expostos na série. As explicações psicológicas imediatas remetem a sentimentos de traição por parte de amigos, sentimento de solidão, falta de solidariedade entre jovens que estudam numa mesma escola, insegurança pessoal típica da adolescência, baixa autoestima, falta de esperança, assédio psicológico e sexual, culminando com a agressão do estupro. Razões que, sobretudo quando agrupadas, como induz o roteiro da série, ”explicariam" o ato de auto extermínio.
Mas, talvez seja interessante, mudarmos a perspectiva de análise. Poderíamos perguntar “para quê a alma conduz alguém ao suicídio”. Sim, porque, a despeito de todas as influências coercitivas sofridas por Hanna, algo nela decidiu pela morte. E isso é mais difícil de compreender porque é mais fácil nos refugiarmos nas possíveis causas psicopatológicas ou sociais de um ato considerado insano.
A questão do suicídio acompanha os seres humanos e a própria civilização. Temos suicídios por diferentes “motivações”: os chamados suicídios patológicos, movidos por profunda depressão, os suicídios produzidos pelo pânico, os altruístas, os religiosos, os políticos, e por aí vai.
O que um psicólogo pode afirmar é que o suicídio é uma possibilidade humana. A morte pode ser “escolhida", a despeito do conjunto de razões a que chamamos “causas” do
suicídio. O significado dessa escolha varia de pessoa para pessoa e segundo a
circunstância. Importa procurar compreender o desejo da alma pela morte.
Citando um eminente analista junguiano falecido ano passado (e não foi por suicídio; digo isso porque, afinal, o suicídio não é desconhecido dos analistas, lembro-me aqui do psicanalista Bruno Bettelheim [1903-1990], por exemplo). Esse analista junguiano, chamado James Hillman, escreveu um profundo livro, o mais expressivo que conheço, “Suicídio e Alma”. Nesse livro, Hillman diz: "Quando a morte é encarada do ponto de vista exterior, que lugar resta para a alma individual e sua experiência de morte? Qual seu significado? O que aconteceu à tragédia e onde se encontra a ferroada da morte? (Hillman, 1964/1993, p. 53).
Hillman diz ainda: "Apenas Jung, dentre os grandes psicólogos, recusou-se a classificar
as pessoas em grupos de acordo com seus sofrimentos.” E, ainda: "A primeira coisa que
um paciente quer de um analista é torná-lo consciente de seu sofrimento e atraí-lo para
seu mundo de experiência. A experiência e o sofrimento são termos de há muito
associados à alma." (p. 55; os itálicos são meus).
Assim, importa conhecer intimamente o sofrimento daquele que decide pelo próprio fim. Voltemos à nossa série e ao enfoque que gostaria de dar a esta comunicação.
O verdadeiro protagonista da série é Clay Jehnsen, o jovem apaixonado por Hanna, e que acompanha a sua saga em direção à morte, por meio das fitas gravadas e deixadas por Hanna. Se vocês acharem estranha essa afirmação, convido-os a considera como "verdadeiro protagonista" aquele personagem que passou pelas mais significativas transformações ao longo do drama. Aprendi isso com outro psicólogo analítico, Terence Dawson (1997/2002), crítico literário de viés junguiano, cuja perspectiva adoto igualmente para a análise de filmes. Na dúvida sobre quem é o protagonista central de um drama, veja quem foi o personagem mais afetado e transformado psicologicamente ao longo da história.
Citando um eminente analista junguiano falecido ano passado (e não foi por suicídio; digo isso porque, afinal, o suicídio não é desconhecido dos analistas, lembro-me aqui do psicanalista Bruno Bettelheim [1903-1990], por exemplo). Esse analista junguiano, chamado James Hillman, escreveu um profundo livro, o mais expressivo que conheço, “Suicídio e Alma”. Nesse livro, Hillman diz: "Quando a morte é encarada do ponto de vista exterior, que lugar resta para a alma individual e sua experiência de morte? Qual seu significado? O que aconteceu à tragédia e onde se encontra a ferroada da morte? (Hillman, 1964/1993, p. 53).
Suicídio e Alma (James Hilman)
Assim, importa conhecer intimamente o sofrimento daquele que decide pelo próprio fim. Voltemos à nossa série e ao enfoque que gostaria de dar a esta comunicação.
O verdadeiro protagonista da série é Clay Jehnsen, o jovem apaixonado por Hanna, e que acompanha a sua saga em direção à morte, por meio das fitas gravadas e deixadas por Hanna. Se vocês acharem estranha essa afirmação, convido-os a considera como "verdadeiro protagonista" aquele personagem que passou pelas mais significativas transformações ao longo do drama. Aprendi isso com outro psicólogo analítico, Terence Dawson (1997/2002), crítico literário de viés junguiano, cuja perspectiva adoto igualmente para a análise de filmes. Na dúvida sobre quem é o protagonista central de um drama, veja quem foi o personagem mais afetado e transformado psicologicamente ao longo da história.
Poderíamos dizer que Hanna foi quem mais se transformou (afinal terminou por morrer),
mas prefiro pensar que a morte de Hanna tem a ver com o desejo profundo de
transformação (aquilo que ela palidamente manifesta no início de um período escolar, ao
cortar o cabelo e dispor-se a se enturmar, estratégia que acabou não sendo bem
sucedida). Um "para quê" da morte já está aqui: a alma deseja transformar-se em busca
da liberdade, libertar-se de situações opressivas, asfixiantes para a existência). A escolha
da morte talvez seja o derradeiro gesto de afirmação dessa liberdade. Mas Hanna se foi,
e Clay permaneceu seguindo a via crucis de Hanna. Escolhi olhar para Clay porque ele
exemplifica a situação existencial dos que permanecem, sobrevivem e são profundamente
afetados pela morte de alguém querido.
Clay não consegue fazer uma “maratona" para ver as fitas (hábito típico dos adolescentese dos adultos também, o nosso mais novo vício!). Não, rapaz sensível que é, sente-se incapaz de suportar as revelações de Hanna. É necessário passar as fitas uma por uma e acompanhar intimamente o sofrimento da amiga. Passar rapidamente pelas fitas seria indicativo de que estaria apenas tomando conhecimento dos fatos e não vivenciando a dor de Hanna sobre cada um dos acontecimentos. Aqui a alma revela outro de seus propósitos: o suicídio coloca em questão a possibilidade da morte e, portanto, o significado da vida.
Clay, na estrutura narrativa, é o herói, que deve atravessar o vale das sombras, vencendo etapas e transformando-se a cada etapa. Isto é clássico. Hanna pode ser vista como a figura que propicia essa jornada, uma Ariadne ou Beatriz. Sua trajetória assemelha-se à via crucis de Jesus, para usar uma metáfora cristã, e sua mortificação serve a um propósito que vai para além do fato objetivo, o da morte de uma jovem inteligente, sensível e bela, diante das experiências dolorosas da vida.
Clay, ele também um jovem de 17 anos, é introvertido, calmo, quieto, que fala pouco, embora possua um senso de humor charmoso. Em um dos capítulos, os pais dão a entender que ele já teria recebido atenção psiquiátrica e psicológica. Inconformado com a morte de Hanna, sabe que uma das fitas refere-se a ele. Não consegue atinar qual seria a sua responsabilidade pela morte de Hanna.
Clay não consegue fazer uma “maratona" para ver as fitas (hábito típico dos adolescentese dos adultos também, o nosso mais novo vício!). Não, rapaz sensível que é, sente-se incapaz de suportar as revelações de Hanna. É necessário passar as fitas uma por uma e acompanhar intimamente o sofrimento da amiga. Passar rapidamente pelas fitas seria indicativo de que estaria apenas tomando conhecimento dos fatos e não vivenciando a dor de Hanna sobre cada um dos acontecimentos. Aqui a alma revela outro de seus propósitos: o suicídio coloca em questão a possibilidade da morte e, portanto, o significado da vida.
Clay, na estrutura narrativa, é o herói, que deve atravessar o vale das sombras, vencendo etapas e transformando-se a cada etapa. Isto é clássico. Hanna pode ser vista como a figura que propicia essa jornada, uma Ariadne ou Beatriz. Sua trajetória assemelha-se à via crucis de Jesus, para usar uma metáfora cristã, e sua mortificação serve a um propósito que vai para além do fato objetivo, o da morte de uma jovem inteligente, sensível e bela, diante das experiências dolorosas da vida.
Clay, ele também um jovem de 17 anos, é introvertido, calmo, quieto, que fala pouco, embora possua um senso de humor charmoso. Em um dos capítulos, os pais dão a entender que ele já teria recebido atenção psiquiátrica e psicológica. Inconformado com a morte de Hanna, sabe que uma das fitas refere-se a ele. Não consegue atinar qual seria a sua responsabilidade pela morte de Hanna.
Evocando outra figura representativa da aventura do herói, Clay tem um “fiel escudeiro”,
por assim dizer. Esse amigo é Toni, um rapaz hispano-americano, um pouco mais velho,
que estuda na mesma escola; ele é de uma classe econômica inferior às dos demais
garotos, homossexual, possuidor de habilidades mecânicas (que desenvolveu com o pai),
muito centrado, generoso e amigo de Clay. Um personagem simpático com quem o
expectador facilmente se empatiza, tal como é o caso de Clay.
Toni também recebeu um conjunto de fitas e conhece todo seu conteúdo. A cada pergunta de Clay sobre o que as fitas contêm, ele sempre responde dizendo que o próprio Clay deve ouví-las. Ou seja, é necessário viver a experiência e o mistério da morte da amiga, sem abreviar passos. A alma pede a experiência pessoal, intransferível.
A estrutura narrativa obriga o espectador a acompanhar o ritmo de Clay (ouvi alguns comentários de críticos da série de que o ritmo lento seria um aspecto negativo dos episódios): ouvimos as fitas ao mesmo tempo que Clay. Portanto, participamos do mesmo ritual de acompanhamento de uma morte anunciada. Sofremos o que Hanna sofreu e sofremos com o testemunho e sofrimento de Clay.
Quando Clay pergunta a Toni (que, como disse, já ouviu todas as fitas), se ele acredita que ele, Clay, é também é responsável pela morte de Hanna, o amigo não alivia: responde afirmativamente. Entenderemos a razão dessa resposta quando Clay chegar à sua fita.
Durante uma festa, Clay tem a oportunidade de aproximar-se intimamente de Hanna (para a torcida geral da galera que acompanha a série, porque o casal é lindinho mesmo!), que também já está apaixonada por ele, e somente não chegam a transar porque Hanna é
Toni também recebeu um conjunto de fitas e conhece todo seu conteúdo. A cada pergunta de Clay sobre o que as fitas contêm, ele sempre responde dizendo que o próprio Clay deve ouví-las. Ou seja, é necessário viver a experiência e o mistério da morte da amiga, sem abreviar passos. A alma pede a experiência pessoal, intransferível.
A estrutura narrativa obriga o espectador a acompanhar o ritmo de Clay (ouvi alguns comentários de críticos da série de que o ritmo lento seria um aspecto negativo dos episódios): ouvimos as fitas ao mesmo tempo que Clay. Portanto, participamos do mesmo ritual de acompanhamento de uma morte anunciada. Sofremos o que Hanna sofreu e sofremos com o testemunho e sofrimento de Clay.
Quando Clay pergunta a Toni (que, como disse, já ouviu todas as fitas), se ele acredita que ele, Clay, é também é responsável pela morte de Hanna, o amigo não alivia: responde afirmativamente. Entenderemos a razão dessa resposta quando Clay chegar à sua fita.
Clay (Dylan Minnette)
A escalada dramática dos episódios leva às agressões culminantes supostamente
responsáveis pelo suicídio de Hanna: o estupro da amiga, de que Hanna se culpa por não
ter intervindo; e o seu próprio estupro perpetrado por Bryce, o maior vilão da série. Aqui
parece que os roteiristas sentiram a necessidade de pesar a mão para justificar o ato
extremo de Hanna. O fato é que não se precisa de tanto para a decisão de um suicídio. A
alma pode suportar muito mais ou muito menos do que a série expõe.
Durante uma festa, Clay tem a oportunidade de aproximar-se intimamente de Hanna (para a torcida geral da galera que acompanha a série, porque o casal é lindinho mesmo!), que também já está apaixonada por ele, e somente não chegam a transar porque Hanna é
assombrada pelas lembranças de assédios e agressões sexuais vividos até aquele
momento. Hanna afasta Clay. Clay respeita a sua recusa e vai-se embora. Ao ouvir sua
fita, descobrirá que ali deixara passar o pedido de Hanna por solidariedade. Essa será a
sua culpa. A sua timidez ao longo do período que antecede esse encontro e que o impede
de declarar-se à Hanna cobra também o seu ônus de culpa. Moral da história: somos
culpados até pelo que não fizemos e, às vezes, precisamente por isso. Outra lição da
alma.
Ao final, Clay, num gesto de ousadia e coragem, típica dos heróis, confronta-se com Bryce, acusando-o do estupro de Jessica e de Hanna. É espancado por Bryce e durante a recuperação da surra, ainda em casa de Bryce, tomando um gole de bebida ironicamente preparado pelo arrogante vilão, consegue obter dele uma confissão. Essa confissão tornar-se-á conhecida e certamente Bryce pagará por seu crime.
Ao final do capítulo, saindo da sala do conselheiro da escola, após confrontá-lo com o pedido de ajuda mal sucedido de Hanna, entrega a fita com a confissão de Bryce e sai para o corredor. Encontra com Skye, uma garota excêntrica que parece já ter causado ferimentos em si mesma, convida-a para sair e ela topa. Ela pergunta quando. E ele diz: agora! E saem da escola, gesto que em outros tempos seria impensável para Clay. Mas, agora, Clay aprendeu a não perder tempo com titubeios e incertezas.
Na cena seguinte, Clay, Toni, o namorado deste, Brad, e Skye, encontram-se no carro de Toni indo para algum lugar. Um “tour" de excêntricos, porque esse é o preço que se paga pela afirmação da própria singularidade, um típico “on the road” de libertação da alma!
A experiência de Clay com a alma (poderíamos pensar que Hanna representa a interioridade de Clay), experiência de sofrimento e morte, transforma a personalidade de nosso protagonista: Clay experimentou as dores das perdas, das traições, das incertezas, das duvidas sobre si mesmo, confrontou-se com a morte, descobriu a coragem e o significado da solidariedade. Adquiriu a integridade que o acompanhará pela vida afora. Mais um para quê da alma: para se viver inteiramente é necessário enfrentar a possibilidade da morte.
Ao final, Clay, num gesto de ousadia e coragem, típica dos heróis, confronta-se com Bryce, acusando-o do estupro de Jessica e de Hanna. É espancado por Bryce e durante a recuperação da surra, ainda em casa de Bryce, tomando um gole de bebida ironicamente preparado pelo arrogante vilão, consegue obter dele uma confissão. Essa confissão tornar-se-á conhecida e certamente Bryce pagará por seu crime.
Ao final do capítulo, saindo da sala do conselheiro da escola, após confrontá-lo com o pedido de ajuda mal sucedido de Hanna, entrega a fita com a confissão de Bryce e sai para o corredor. Encontra com Skye, uma garota excêntrica que parece já ter causado ferimentos em si mesma, convida-a para sair e ela topa. Ela pergunta quando. E ele diz: agora! E saem da escola, gesto que em outros tempos seria impensável para Clay. Mas, agora, Clay aprendeu a não perder tempo com titubeios e incertezas.
Na cena seguinte, Clay, Toni, o namorado deste, Brad, e Skye, encontram-se no carro de Toni indo para algum lugar. Um “tour" de excêntricos, porque esse é o preço que se paga pela afirmação da própria singularidade, um típico “on the road” de libertação da alma!
A experiência de Clay com a alma (poderíamos pensar que Hanna representa a interioridade de Clay), experiência de sofrimento e morte, transforma a personalidade de nosso protagonista: Clay experimentou as dores das perdas, das traições, das incertezas, das duvidas sobre si mesmo, confrontou-se com a morte, descobriu a coragem e o significado da solidariedade. Adquiriu a integridade que o acompanhará pela vida afora. Mais um para quê da alma: para se viver inteiramente é necessário enfrentar a possibilidade da morte.
Referências
Hillmam, J. (1993). Suicídio e alma. Trad. S. M. C. Labate. Petrópolis: Vozes. (Trabalho
original publicado em 1964)
Dawson, T. (2002). Jung, literatura e crítica literária. In Young-Eisendrath, P. & Dawson, T. (Orgs.), Manual de Cambridge para Estudos Junguianos, pp. 239-259. Porto Alegre: Artmed. (Trabalho original publicado em 1997)
Comunicação realizada no encontro “Vozes da Alma em Sofrimento”, IESB - Brasília (DF), em 3 de maio de 2017.
Roque Tadeu Gui.
Dawson, T. (2002). Jung, literatura e crítica literária. In Young-Eisendrath, P. & Dawson, T. (Orgs.), Manual de Cambridge para Estudos Junguianos, pp. 239-259. Porto Alegre: Artmed. (Trabalho original publicado em 1997)
Comunicação realizada no encontro “Vozes da Alma em Sofrimento”, IESB - Brasília (DF), em 3 de maio de 2017.
Roque Tadeu Gui.
Roque, adorei sua visão sobre a série! Ela amplifica as críticas e as paixões, simplesmente reflete sobre o que a série tem e é. Quanto às críticas sobre o tempo demasiadamente parado acho que os produtores tiveram uma ação proposital quanto a isso. Penso que esse tempo traz para o telespectador a sensação morosa e lenta da depressão; e os últimos capítulos trazem a intensidade e impulsividade. Acho que essas características gritam na alma em momentos profundamente limítrofes como o suicídio. Leitura gostosa é interessante! Amei!
ResponderExcluirPrezados do IJBsb, não sei bem a quem dirigir meus cumprimentos, se à Selena, Tom ou Roque. Pois não está bem clara a autoria/tradução do comentário. De qualquer forma, parabenizo a iniciativa pela escolha sensível de um tema tão delicado e atual. A análise clara e de fácil compreensão, sem deixar de ser aguda e esclarecedora é um brinde para um futuro alvissareiro do blog. Seguimos juntos.
ResponderExcluirRoque parabéns pela bela e profunda análise dessa série que traz um tema tão grave, instigante e inquietante como o suicídio. A tua abordagem tecida pelos caminhos da alma amplia sobremaneira a visão do suicidio. Grata por compartilhares o teu pensar aqui no blog do IJBsb.
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