segunda-feira, 27 de novembro de 2017

UNUS MUNDUS – A REALIDADE EM PERSPECTIVA E A CLÍNICA JUNGUIANA



Por:Alcione Nascimento Tinôco
Tutora: Renata Whitaker
Brasília Julho, 2017

Resumo
Este artigo questiona a concepção de realidade adotada pelo senso comum e pelo modelo tradicional de ciência. Refere-se à sincronicidade como um ponto de intersecção entre a Psicologia Analítica e a Física e como campo de evidências de camadas mais profundas de realidade. Trata-se de um fenômeno definido por Carl Gustav Jung como coincidência significativa de eventos psíquicos e materiais entre os quais não se identifica relação causal. As atuais contribuições da Física acerca do modelo de realidade corroboram resultados da observação de dados empíricos por Jung e de estudos realizados por ele e pelo físico Wolfgang Pauli.

UNUS MUNDUS A REALIDADE EM PERSPECTIVA E A CLÍNICA JUNGUIANA

Comumente se fala da realidade como se houvesse um consenso quanto à sua definição. Busca-se não perder o contato com o mundo real, valoriza-se a razão, a capacidade do indivíduo de se colocar em relação com o contexto que o cerca e de atuar nesse contexto de forma lúcida, dentro do tempo e do espaço caracterizados por sequência linear e continuidade. Para isso, fortalece-se a consciência e, se algo sinaliza sair do modelo de comportamento ajustado, recorre-se a tratamentos. Assim, separa-se o mundo da imaginação e da subjetividade do mundo de realidade material e desconfia-se do que não seja objeto de consenso interpessoal ou não esteja de acordo com o modelo hegemônico de ciência.
Há, entretanto, na psicologia analítica, conceitos que subvertem a concepção ordinária de realidade, mas que se sustentam em teorias da física cujas contribuições atualmente ganham cada vez mais evidência no meio científico.

O foco de interesse da psicologia junguiana é a psique, entendida como “... a totalidade dos processos psíquicos, tanto conscientes como inconscientes” (Jung, citado por Penna, 2013, p. 146). Penna (2013, p. 145) afirma que a realidade psíquica, na perspectiva junguiana, sintetiza “a realidade física, material e corpórea com a realidade espiritual, imaterial e abstrata. ” Logo, o psíquico é tão real quanto o físico e os dois aproximam-se para formar uma unidade.
Assim pensavam os alquimistas medievais cujo texto sagrado intitulado “A tábua de esmeralda de Hermes” preconizava que “Aquilo que está embaixo é igual ao que está em cima e aquilo que está em cima é igual ao que está embaixo, para realizar os milagres de uma só coisa. ” (Edinger, 2006, p. 23)
A ideia de totalidade está presente na obra junguiana com várias funções. Uma delas é associada ao conceito de unus mundus, herança da filosofia medieval. Assim, a partir desse conceito, a cosmovisão junguiana apoia-se no ideário romântico para conciliar “o subjacente e o manifesto”
(p.139) e vai além da causalidade, considerando a realidade como um todo complexo e articulado de relações causais e não causais. (Penna, 2013)



É nesse complexo de relações não causais, de natureza simbólica e nas quais predomina a associação de significado, que ocorre o fenômeno da sincronicidade. Trata-se da relação entre dois eventos, um inserido no espaço e no tempo e o outro pertencente à dimensão simbólica. Esses eventos relacionam-se significativamente e fazem sentido para o indivíduo que os percebe, mas não têm relação causal. (Penna, 2013; Raff, 2002)

A ideia de que sob a aparência física das coisas existe um significado, uma dimensão simbólica, era defendida pelos alquimistas a ponto de Paracelso haver considerado como fantasia a atitude de acreditar na realidade física. Para além dessa aparência encontra-se o significado, a possibilidade de se compreender as situações imediatas da vida relacionando-se os níveis de realidade. É por isso que a imaginação ativa, método criado por Jung, pode levar tanto a uma profunda compreensão de fatos da vida material, a insights que produzem uma transformação psíquica, como até mesmo a uma modificação da situação, como a cura de um sintoma físico, por exemplo. (Penna, 2013; Raff, 2002)

Essas afirmativas podem conduzir ao questionamento: como é possível que se estabeleça relação tão significativa entre psique e mundo material a ponto de parecer que ocorre uma passagem da dimensão simbólica, da realidade psíquica, para a realidade material?
Ao ocupar-se da relação entre realidade psíquica e realidade material, Jung (1928/2013) concluiu que existe a possibilidade de que psique e matéria sejam “dois aspectos diferentes de uma só e mesma coisa” e que os fenômenos de sincronicidade indicam isso. Estabeleceu uma analogia entre o espectro de cores que variam do vermelho ao ultravioleta, concluindo que o dinamismo do instinto localiza-se no infravermelho e que a imagem do instinto (o arquétipo) localiza- se no ponto ultravioleta. O instinto expressa-se, nesse espectro, da seguinte forma: de um lado, como dinamismo fisiológico. De outro, como imagens pelas quais ele penetra na consciência e produz efeitos
numinosos. Essas imagens são os arquétipos. Enquanto a psique biológica instintiva (no infravermelho psíquico) se expressa nos processos biológicos do organismo, o arquétipo (no ultravioleta) encontra-se em um ponto que não pode ser considerado fisiológico, mas que também não pode ser considerado inteiramente psíquico, embora se expresse psiquicamente. Assim, o arquétipo tem natureza psicóide, ou seja, ele situa-se numa área de passagem entre psique e matéria.
Assim, Jung (1928/2013) explica que os arquétipos constituem “um fator psíquico partilhado por toda a humanidade” (p. 111). Como são tipos arcaicos de comportamento que originam e regulam os conteúdos da consciência, os arquétipos atuam como instintos. Mas arquétipo e instinto são opostos. Também, quando surgem, provocam um efeito intenso que pode resultar em cura ou em destruição. Muitas vezes, ao aparecerem em sonhos e fantasias, são percebidos como espíritos, como fantasmas, e exercem um efeito tão numinoso que pode ser arrebatador para o indivíduo, levando-o a agir movido por intenso afeto. Em si, o arquétipo não tem forma. Entretanto, torna-se consciente ao ser representado. Mas de qualquer forma, a sua natureza transcendente faz com que a imagem que o representa não consiga expressar, apreender tudo de sua essência.

E os arquétipos são formas psíquicas preexistentes e sem conteúdo que se constituíram em decorrência de incontáveis repetições de experiências da humanidade, podendo tornar-se conscientes de forma secundária e dar forma aos conteúdos da consciência. São ativados por situações típicas da vida, gerando comportamentos que escapam ao controle intencional da razão humana. (Jung, 1959)
Segundo Raff (2002, p. 89) as experiências psicoidais produzem um “profundo impacto... sobre a mente e o corpo, e a sensação de que a figura vem de lugar situado além da psique. Essa figura é um arquétipo e o lugar de onde se originam é a dimensão psicoidal. Embora não sejam parte da psique humana, essas figuras têm características físicas e psíquicas, mas estão em um terceiro estado que é aquele dos corpos sutis.
Assim, tanto os sintomas psicossomáticos quanto os fenômenos parapsicológicos derivam da área psicóide de onde sai a informação que é psiquizada, ou seja, que de incognoscível passa a inconsciente e depois chega à consciência. (Stein, 2006)


A demarcação de limites claros entre o que é físico e o que é psíquico não é tarefa fácil, uma vez que a maior parte da interação entre essas duas instâncias encontra-se profundamente enraizada no inconsciente. Elas, em muitos aspectos, independem uma da outra, mas entre os extremos de uma linha contínua imaginária, suas áreas se interpenetram e atingem a faixa em que se encontra o que não é psíquico e nem físico e que Jung, apropriando-se de um termo utilizado por Bleuler, denominou psicóide. (Stein, 2006)
Ao explicar o pensamento de Jung sobre o psicóide, Stein (2006, pp. 95-96) nos convida a imaginar “... uma linha que percorre a psique e liga o instinto e o espírito em cada ponta. ” Essa linha permite a transmissão de dados por meio da área psicóide “para o inconsciente coletivo e depois para o pessoal. Daí, esses conteúdos percorrem seu caminho até a consciência. ” E completa, afirmando que “As percepções instintivas e as representações arquetípicas são os dados da experiência psíquica real, não os instintos e os arquétipos em si mesmos. ” Assim, não há possibilidade de o indivíduo experimentar diretamente nenhum dos dois, uma vez que nenhum deles é psíquico.
E a condição psicóide dos arquétipos confere-lhes a qualidade de transferibilidade que Stein (2006) explicou como a possibilidade de emergir na consciência tanto a partir da própria psique quanto a partir do exterior, do mundo material. Isso ocorre porque os arquétipos não estão restritos a nenhuma dessas duas instâncias. E, ainda, quando surgem ao mesmo tempo no mundo psíquico e no mundo material, esse fenômeno é qualificado como sincronístico.
Ao explicar o estado psíquico em que ocorrem eventos sincronísticos e fenômenos de percepção extrassensorial (ESP), Jung (1950/2014) afirmou que o estado emocional do indivíduo envolvido promove uma modificação na consciência, rebaixando o nível mental. Nesse estado, a
consciência se estreita e o inconsciente se fortalece e se eleva. Então, cria-se uma espécie de declive em que impulsos e conteúdos instintivos do inconsciente afluem para a consciência.
Jung (1950/2014) também esclarece que sincronicidade ocorre quando “Um conteúdo inesperado, que está ligado direta ou indiretamente a um acontecimento objetivo exterior, coincide com o estado psíquico ordinário. ” (p. 39). Assim, por exemplo, uma mulher sonha que alguém lhe diz que uma de duas borboletas idênticas deverá morrer e, no dia seguinte, ao atender a um convite de uma amiga e entrar numa sala, depara-se com dois quadros de borboletas idênticas colocadas lado a lado na parede. O significado do evento sincronístico parecia apontar para a necessidade de união de polaridades.
E justamente o significado, ao lado da simultaneidade, caracteriza o fenômeno da sincronicidade que não guarda em si uma relação causal entre os eventos ocorridos. A ideia de relação causal foi excluída porque caso se recorra a uma explicação causal de cunho transcendental, é preciso lembrar que um fenômeno transcendental não pode ser demonstrado como um fenômeno material em laboratório, o que levou Jung a afirmar que a sincronicidade é um fenômeno acausal. (Jung, 1950/2014)


Mesmo ameaçada por acusações de pouca cientificidade, a tese junguiana foi postulada clara e corajosamente: existe um continuum entre a psique e o mundo e estes “interagem intimamente e se refletem reciprocamente”. (Stein, 2006, p. 178)
A visão de mundo decorrente da ideia de sincronicidade e da natureza psicoidal dos arquétipos, portanto, é aquela na qual se “decompõe a dicotomia sujeito-objeto”. Trata-se de uma visão sistêmica na qual o mundo e o ser humano compõem uma totalidade crescentemente complexa em que, além dos fenômenos causais, existem fenômenos acausais nos quais eventos ocorridos no espaço e no tempo podem relacionar-se significativamente com eventos de natureza simbólica sem que um tenha produzido o outro. (Stein, 2006, p.176; Penna, 2013) 

Jung arriscou-se a perder prestígio profissional na comunidade científica ao falar de algo que não se resume ao psíquico e nem ao material e que produz no ser humano efeitos misteriosos, numinosos. Seu compromisso com a realidade do que havia percebido manteve-o fiel ao propósito de publicar o resultado de suas reflexões e descobertas, mesmo sendo rotulado com escárnio como ocultista e místico. Para isso, precisou nomear os fenômenos e, ao fazê-lo, utilizou termos desconhecidos ou pouco aceitos em círculos científicos. Entretanto, vislumbrou na Física a possibilidade de explicação do fenômeno sincronístico. Além de vários almoços com Albert Einstein nos quais a teoria da relatividade era o tema da conversação, ele e o físico Wolfgang Pauli iniciaram uma colaboração que seria profícua se não fosse interrompida pela morte de Pauli. (Stein, 2006)
Muitas construções teóricas da Física emergentes na época também tinham, como as ideias de Jung sobre sincronicidade, um modelo não causal. A fissão radioativa era um exemplo. Além disso, Pauli estudou as ideias de Kepler e nelas descobriu arquétipos. Jung e Pauli concordavam que a visão da física clássica sobre tempo, espaço e causalidade poderia se transformar com o acréscimo do quarto termo: sincronicidade. Ao contrário da ideia de causalidade como conexão constante no contínuo espaço-tempo, Jung e Pauli propunham a ideia de uma conexão inconstante por meio da contingência e do significado. Ao contrário de Einstein, que considerou que a estrutura do espaço- tempo é contínua, Jung e Pauli pensavam que também existem fenômenos acausais que significam inconstância, descontinuidade, apesar de haver equivalência. (Hyde &b Mc-Guinness, 2012)


Wolfgang Pauli

Jung (citado por Lachman, 2012, p. 208) concluiu que ...ou há processos físicos que causam acontecimentos psíquicos ou há uma psique pré-existente que organiza a matéria. ” As “coincidências significativas” são evidências desse pensamento.
A aproximação entre a teoria junguiana e as ideias da física ganham atualmente novas contribuições que reafirmam o conceito de sincronicidade: o físico irlandês John S. Bell criou um teorema (Teorema de Bell), confirmado por experimento dos físicos David Bohm e Yakir Aharonov, que questiona o pressuposto de localidade valorizado pelo paradigma científico atualmente dominante. Este paradigma considera que:
“as causas de um evento qualquer têm de ser buscadas no local do evento ou em locais capazes de enviar uma informação física (por onda ou partículas) que precisa chegar ao local do evento antes de sua ocorrência.” (Rocha Filho, 2014)
Entretanto, o Teorema de Bell (ou Desigualdade de Bell) “...demonstrou que a natureza básica da realidade tem que ser não local” (Rocha Filho, 2014, p. 89), ou seja, que existe uma “ligação instantânea” entre pontos do espaço-tempo distantes entre si que não está sujeita à distância ou à quantidade de matéria que se interpõe entre esses dois pontos. Assim, a ideia de que os órgãos dos sentidos medeiam a consciência humana e a realidade passa a ser questionada e abre-se um campo de compreensão na física que permite supor a existência de uma memória da humanidade que pode ser a responsável não somente pela herança psicológica comum aos seres humanos mas que também inclua dados sobre todos os acontecimentos da existência do Universo. (Rocha Filho, 2014)

Essa “herança psicológica comum aos seres humanos” a que se refere Rocha Filho (2014, p. 89) é o inconsciente coletivo, conceito que Jung (1959/2014) afirmou ser tributário das contribuições teóricas de Lévy-Brühl (representações coletivas), Hubert e Mauss (categorias da imaginação) e Adolf Bastian (pensamentos elementares ou primordiais) e que disse ser uma parte da psique que difere da psique individual consciente, um segundo sistema psíquico em relação à consciência, de caráter coletivo, herdado pelo indivíduo e composto pelos arquétipos. É, portanto, de natureza psicoidal.
Os conceitos junguianos de inconsciente coletivo e sincronicidade ganham, dessa forma, confirmação científica e contribuem para a ampliação da ideia de realidade. A consciência é como uma onda que se eleva na totalidade do oceano. Ela se separa do todo apenas de forma aparente. E a realidade física é resultado da realidade psíquica, mais profunda.
Assim, a sincronicidade, conforme Rocha Filho (2014, p. 92), poder ser “um sintoma perceptível da estrutura mais profunda da realidade... em nada semelhante ao Universo composto por entidades independentes e separadas, da Física Clássica. ”.
Retorna-se, assim, com a ajuda da Física, à ideia de unus mundus tão cara aos alquimistas e filósofos medievais e utilizada por Jung para propor a ideia de mundo unificado, de mundo psíquico com o mesmo status conferido ao mundo material e este último como o cenário em que coincidências significativas ocorrem, acenando para a existência de outras instâncias de realidade.

REFERÊNCIAS
Edinger, E. F. Anatomia da psique: o simbolismo alquímico na psicoterapia. Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela Gonçalves Trads. São Paulo: Cultrix, 2006.
Rocha Filho, J. B. da. Física e psicologia: as fronteiras do conhecimento científico: aproximando a física e a psicologia junguiana. 5 ed.rev.ampl. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2014.
Hyde, M. & Mc-Guinness, M. Entendendo Jung. Adriana de Oliveira trad.São Paulo, Leya, 2012
Jung, C. G. (2013). A natureza da psique. In Obras completas de C. G. Jung. (Vol 8/2). Petrópolis: Vozes. (Trabalho original publicado em 1928)
Jung, C. G. (2013). Os arquétipos e o inconsciente coletivo. In Obras completas de C. G. Jung. (Vol. 9/1). Petrópolis: Vozes. (Trabalho original publicado em 1959)
Laxam G. Jung, o místico: as dimensões esotéricas da vida e dos ensinamentos de C. G. Jung: uma nova biografia. (Mário Molina trad.). São Paulo: Cultrix, 2012
Penna, E. M. D. Epistemologia e método na obra de C. G. Jung. São Paulo: EDUC: FAPESP, 2013.
Raff, J. Jung e a imaginação alquímica. Marcello Borges (Trad.) São Paulo: Mandarim, 2002. Stein, Murray. Jung: o mapa da alma. (Álvaro Carvalho trad.) São Paulo: Cultrix, 2006.

sábado, 11 de novembro de 2017

REVERBERAÇÕES DA IMAGEM DO PAI - COMPLEXO PATERNO



 
Luanda Fernandes Pereira

RESUMO
Este trabalho tem como objetivo apresentar as diretrizes do conceito de Complexo Paterno, através da abordagem da psicologia Junguiana. Neste percurso demonstrará as visões do Complexo e do Arquétipo do Pai, cujo tema foi criado pelo psicólogo Carl Gustav Jung. Estes tópicos são importantes para compreensão do Complexo Paterno por serem agentes influenciadores da ação do mesmo. Desta forma, passará por visões do mito do pai e seguirá em direção ao Complexo Paterno. O conceito será fundamentado para explanação dos pontos principais do ComplexoPaterno.

INTRODUÇÃO
A figura do pai é um agente primordial e incondicional para existência de um ser humano. Uma pessoa não existe sem que tenha havido, ao menos, um ser masculino como imagem do pai enquanto provedor, ou seja, a imagem do pai encontra- se no universo dos arquétipos, segundo Carl Jung.
A figura do pai existiu na história da humanidade desde sua era mais remota desta forma. Seja ele como imagem espiritual que dá o sopro da vida, segundo maior parte das religiões patriarcas monoteístas, ou, seja ele como a imagem do pai desdobrada em atributos de personalidade de deuses paternos, sendo esta uma visão dos deuses patriarcais do Olimpo na mitologia Grega.
A figura paterna influenciará a formação da personalidade de cada indivíduo de forma única. Esta imagem, envolverá a história de vida do individuo como também colaborará para formação do complexo paterno. Durante a formação da personalidade, a imagem do pai acompanha a dimensão coletiva de paternidade, isto é, toda visão de pai construída no decorrer da história da humanidade. Esta imagem se torna presente na psique ou na parcela do inconsciente denominado Inconsciente Coletivo, onde se abriga o conteúdo do arquétipo. Assim, o complexo paterno envolverá a relação de pai X filho e pai X filha tendo demarcações próprias na história de vida de cada um. Tais influências serão significativas no futuro de vida de cada um.
A questão de destaque é o fato de que o complexo paterno terá sua posição estabelecida na vida de toda pessoa, enquanto filho ou filha. Esta condição manter-se- á mesmo com o pai ausente ou desconhecido ou deficiente ou omisso ou... morto.
A imagem do pai quando unida à formação do complexo estabelecerá caminhos determinantes na psique. Este processo impera de forma incondicional e involuntária na vida de todo filho ou filha.
A formação do complexo na psique ocorre de forma autônoma, em uma situação específica envolvendo uma imagem arquetípica determinada. Esta condição é temida pela maioria das pessoas, afinal, a força do complexo como se expressa no momento específico, poderá provocar a desintegração da psique. Quando isto ocorre, deixa a pessoa desorientada ou aparentemente “fora de si”, conforme JUNG afirma: “ ... Os complexos são aspectos parciais da psique dissociados. A etiologia de sua origem é muitas vezes um chamado trauma, um choque emocional, ou coisa semelhante, que arrancou fora um pedaço da psique.”( 2011, vol. 8-2 p. 42). O complexo forma-se quando a psique ainda não se encontra segura para lidar com um tipo de conteúdo determinado.
O complexo quando acionado influencia intensamente! Sua natureza leva a pessoa que o vivencia à uma condição de quase imobilidade emocional. O complexo está então acompanhado do afeto, que afeta a psique enquanto sensação de desprazer, ou seja, incômoda. Isto implica dizer que o complexo “É a imagem de uma determinada situação psíquica de forte carga emocional e, além disso, incompatível com as disposições ou atitude habitual da consciência” ( JUNG, 2011 p. 43). Por este motivo, o complexo leva a fragmentação da personalidade e possibilita e desintegração da psique.
Um complexo pode ser originado, em um primeiro momento, a partir de uma situação específica nas condições acima citadas. Uma vez “criado”, um complexo específico poderá ser acionado e esta dinâmica ocorrerá toda vez que situações que
lembrem a origem de tal complexo forem vivenciadas pela pessoa. Este fato leva à constelação do complexo , ou seja, “... este termo exprime o fato de que a situação exterior desencadeia um processo psíquico que consiste na aglutinação e na atualização de determinados conteúdos(...) Esses conteúdos constelados são chamados de complexos que possuem energia psíquica própria.” (JUNG, 2006 – p. 198).
Assim um complexo vai desenvolvendo-se de maneira inconsciente na psique até tornar-se insuportável. Quando o complexo atingir este nível a psique buscará meios para ele ser notado pelo indivíduo. Os sinais do complexo são estimulados nas imagens dos sonhos, sintomas, sincronicidades, doenças, atos falhos, situações repetitivas da vida, entre outros. O complexo então, faz parte de aspectos parciais da psique dissociada e, carrega o potencial de expressão de uma sensação corpórea .
Uma forma de compreender a dinâmica do complexo é pensá-lo como aquele acumulo de pedras que se formam no rio. Isto se constrói enquanto a água continua a sua correnteza. Esta vai trazendo todo tipo de material, vivo ou não: pedaços de arvores, areias, resíduos, animais, potencial a formação de lodo, etc. Quando estes esbarram nos nichos de pedras podem ali tropeçar ou mesmo ali estacionar. Desta forma um monte de pedra que começou pequeno vai-se tornando maior. Este agrupamento pode um dia vir a ser uma barreira de pedras e outros materiais. Esta situação pode provocar a mobilização de maior energia da água para esta ultrapassar tal obstáculo. Mas tal situação também pode até mesmo impedir ou diminuir o fluxo da água.
Conforme o relatado no parágrafo anterior, a água pode ser imaginada como a energia psíquica. Esta deve estar em movimento mesmo diante da formação de complexos, (acúmulos de pedras no rio). Para que aqueles não provoquem o impedimento do desenvolvimento da psique é preciso ocorrer a conscientização e readaptação dos conteúdos da psique acessados. Estes são trazidos ou “mexidos” por cada complexo constelado na vida do indivíduo. Apenas com esta dinâmica, o complexo poderá cumprir sua função de cooperação para o movimento de individuação da psique.
Uma das características mais importantes do complexo é a sua condição de ter como seu núcleo ativador e de base um arquétipo. Este será responsável para dar a fórmula da ação e ativação de um complexo. Isto favorecerá, consequentemente, a compreensão deste pela psique.


Os arquétipos são as experiências típicas da espécie humana, tais como, a maternidade, a paternidade, o Divino, o sacrifício, relacionamentos amorosos, relacionamentos entre irmãos, luto, o esforço em prol do alimento diário, travessias, etc. Toda imagem que remete a situações típicas do universo humano traz o indício do mundo arquetípico. Arquétipos “... são possibilidades herdadas para representar imagens similares, são formas instintivas de imaginar. São matrizes arcaicas onde configurações análogas ou semelhantes tomam forma.” (SILVEIRA, 2000 – p. 68). Estas imagens ecoam de forma sensorial quando experimentada pelo indivíduo, podendo inclusive desencadear intensas emoções (numinosidade). Enquanto imagem, o arquétipo é entendido como símbolo. Este norteia o arquétipo no sentido de promover a interligação entre inconsciente e consciente, ego X self, junto ao seu sentido próprio. Afinal o arquétipo pertence ao território do inconsciente coletivo formulado por CarlJung.
O Arquétipo tem em sua natureza a condição de polaridade. Desta forma, ele apresenta-se com grandes ondas de força para ser percebido pela psique e atingir seu objetivo, propiciando a individuação. Com este intuito o arquétipo faz-se ser notado ou vivido ou sentido ou conscientizado através das imagens nos sonhos, sintomas/doenças, sincronicidades de experiências do dia a dia, rituais religiosos, energia criativa da psique ou de criação artísticas, mitos, expressões idiomáticas, etc.
O arquétipo paterno reflete a imagem do pai, segundo Lima Filho: “O ‘amor’ paterno não se sabe o que é. O amor da mãe é aqui e agora; o do pai é lá e então, é uma perspectiva para o futuro.” (LIMA FILHO, 2002 – p. 135). O olhar de paternidade tem seu universo próprio. Remete à proteção enquanto se direciona; ao poder no sentido de trazer este para si e situar à capacidade de comandar do filho(a); ao estimulo ao desenvolvimento da razão; uma imagem de contato via abstrato; uma visão e em direção ao futuro; a vivência do mundo objetivo e prático de valores, regras, leis... tudo que compõe o mundo social; ao contato com a cultura; ao impulsionar o exercício da força física e contato com o corporal; ao encorajamento de distanciar o contato ao mundo da mãe, subjetivo, para então desenvolver a objetividade; ao descobrimento do universo egóico; à pronuncia e exploração da fala; ao voltar-se a um “continente” diferente.
Se por um lado, a relação pai X filha é induzido a dar ênfase neste encontro a um caminho de diferenciação, ou universo estrangeiro, por outro lado, a relação pai X filho volta-se a dar destaque ao mundo masculino. Entretanto, em ambas relações o espiritual será instigado pelo pai. Visto que este não tem uma relação direta de sensação e material com filha/filho na origem destes. Desta forma o pai aparece como imagem desconhecida e intuitiva no início da vida dos filho/filha. Isto é, “Nos homens um complexo paterno positivo produz freqüentemente uma certa credulidade em relação a uma instância autoritária e uma prontidão a submeter-e diante de todas as normas e valores espirituais. Nas mulheres, dá origem a vivas aspirações a interesses espirituais.”(JUNG, 2006 – p. 212).



Este modelo de imagem arquetípica de pai é notada, em parte, entre os mitos das principais referencias de figura paterna da mitologia grega: Urano, Cronos, Poseidon, Hades e Zeus. “Os deuses patriarcais são homens autoritários que vivem no céu, ou no alto de montanhas, governam do alto e a distância(...) em geral são ciumentos de suas prerrogativas, cobrando obediência. Apesar de todo poder, entretanto, sentem medo de serem destronados pelos próprios filhos.”(BOLEN, 2010 – p. 44).
Estes deuses representam três gerações da mesma linhagem familiar. Segundo a mitologia grega, Urano foi o primeiro pai da terra, após o caos que existia antes de sua vida. No inicio era um mundo formado apenas de um espaço, sem forma. Este vazio provocou o caos e deste gerou a terra, Gaia ou Géia. Esta transformou-se na deusa mãe e gerou Urano, o céu. Este uniu-se a Geia! Mas Urano ficou perplexo com a grande capacidade reprodutiva de sua esposa! Isto o deixou furioso! Desta forma ele passou aprisionar os seus filhos no ventre de Gaia, não os deixavam nascer. O acumulo de filhos no ventre de Geia, provocava dor e angústia. Por essa razão, Geia tentou montar um plano com seus filhos presos. Isto seria necessário para tal prisão não mais acontecer. Um de seus filhos, Cronos, um titã, aceitou! Assim, segundo o plano estabelecido, em um dos momentos que seu pai penetrou sua mãe, Cronos castrou-o. Desta maneira, todos os filhos de Geia passaram nascer, inclusive Cronos.
Cronos casou-se com Réia. Ele temia ser destronado do Olimpo por um de seus filhos. Em vista disto Cronos passa a devorar todos eles logo depois de seus
nascimentos. Isto deixa Reia muito incomodada! Esta pede e consegue a cumplicidade dos sogros, Geia e Urano, para superar tal atitude de Cronos. Sob auxílio deles, após o nascimento de um de seus filhos Réia cobre uma pedra com pano. Este embrulho ela dá para Cronos comer no lugar do filho. Finalmente nasce e vive um filho de Réia, ele seria Zeus. Réia leva o filho para ser cuidado por Métis (deusa pré-olímpica da sabedoria). Então, Zeus destrona o pai. Após destronamento deste nascem, deglutidos pelo pai, Poseidom e Hades. Estes são então os irmãos de Zeus. Aqueles passam a ser também outras figuras de deuses paternos. Após estes três irmãos nascerem e destronarem o seu pai, Cronos, eles tiraram a sorte. Isto servira para determinar o território de domínio de cada um dos três sobre a terra. Poseidom ficou com os mares e rios, Hades com o subterrâneo abaixo da terra, e Zeus ficou com o Céu. Zeus tem a informação de que seu filho pode destroná-lo. Por esta razão Zeus come seu primeiro filho que nasce. Porém, este é uma mulher, Atená. Esta então nasce da cabeça de Zeus, depois de uma forte dor de cabeça, e torna-se deusa da razão. Zeus passa a ser um amplo procriador, seja de deusas ou de mortais.


http://mitologiagrega.net.br/historias-da-mitologia-grega/


As imagens arquetípicas paternas acima relatadas refletem interferência na relação pai X filho e pai X filha, a partir do conceito de arquétipo. Cada uma de tais imagens paternas poderá possibilitar algum tipo de influência específica na relação paternal. Isto é notável como resquícios de estórias próprias de cada arquétipo de pai:
URANO (filho: Cronos)- Pai aprisionador: é o pai que prende os filhos na barriga da mãe para eles não nascerem. Esta representação paterna implica na dimensão do pai que não deixa o filho conduzir sua própria vida. Além disto, tal pai pode posicionar-se com uma tamanha “proteção” a ponto de impedir o filho de conhecer o mundo exterior, consciência e luz. Este tipo de posicionamento envolve uma condição fraudulenta e perversa da paternidade.
CRONOS (filho: Zeus) Pai devorador: castra o pai para nascer e devora os filhos quando estes nascem. Esta instância de paternidade delimita a desenvoltura dos filhos. Isto implica em atitudes paternais tendenciosas a fazer com que os filhos passem a ser praticamente parte ou propriedade do seu pai. Desta forma, impacta o domínio paterno sobre a vida e mesmo da personalidade de seus filhos. É uma figura paterna que domina com o lado estrategista para se sobrepor em seus desejos e poder sobre seus filhos(as).
Zeus (filhos: Atená, Hercules, Persefone, etc...) - destrona o pai e promove alteridade a mãe de Zeus entrega ao pai em lugar de seu filho uma pedra para Zeus poder nascer e não ser devorado pelo mesmo. Então, a mãe entrega o filho para ser cuidado por Métis(deusa pré-olípica da sabedoria). Assim Zeus destrona o pai e solta seus irmãos. Esta imagem paterna é a que expõe de maneira mais rica as aptidões do papel do pai, no sentido mais amplo e positivo da palavra. Este arquétipo carrega o direito de ser o modelo-padrão de paternidade. Ou seja, é o arquétipo que melhor espelha a função paterna positiva. Entre os destaques de suas características estão a sua figura de autoridade pessoal ou social, exercício do poder, ênfase na vontade, foco no mental e exercício do pensamento.
Os deuses a seguir inferem como figura paterna por ter sido parte da 1a geração de deuses do Olimpo, junto com Zeus. Eles representam 2 aspectos do arquétipo do pai. Poseidom e Hades remetem a figuração da sombra, no sentido junguiano, do deus paternal principal. Este é desempenhado por Zeus.
Poseidon deus dos mares e agitações da terra. Ele vive sob os mares e águas correntes. Além disto, ele também provoca agitações de terra com seu tridente. Ele não vive no Olimpo, foi casado com Anfitrite e teve o filho Tríton. Em vista destas
suas características, Poseidon apresenta-se com a paternidade onde deixam as emoções vivas e imperando. Por outro lado, seus instintos vigoram incessantemente. Diante da polaridade(bom X mal, positivo X negativo, etc.) que acompanham a natureza do arquétipo, este aspecto paterno pode trazer benefícios em uns momentos e outros não. Visto que emoções e instintos possuem seus lados positivos e negativos, dependerá da intensidade. Ou seja, por um lado este deus pai carrega a relação com filho(a) recheados de afeições e expressões positivas de emoção. Por outro lado este aspecto afetivo deste arquétipo pode interferir na relação paterna por via negativa. Ou seja, a relação tenderá a ser abordada via emoções “explosivas” e instintos “à flor da pele”.
Hades - deus da escuridão e da morte. Vive no mundo subterrâneo e escuro abaixo da terra. Apaixonou-se por Perséfone, filha de Zeus com Demeter. Ele reinava no mundo subterrâneo, sem filhos e sem interferência no Olimpo. A atmosfera paterna deste arquétipo encontra-se em forma indistinta e sem definição de presença e interferência. Por isto sua figura provoca temor diante de sua imprecisão de presença e interferência na sua relação com filho(a). A isto, alia-se a impessoalidade em suas relações paternas. Esta é uma condição paterna vazia de atitudes, interferências e posicionamento social ou afetivo ou familiar ou...
Duas dimensões foram acima relatadas: complexo e paterno. Esta junção possibilita um olhar amplo ao Complexo Paterno. Este conceito será ampliado por ser tão presente e vital no desenvolvimento humano nos seus âmbitos históricos, psíquico e individual.
Como já disse anteriormente, a não elaboração do complexo leva à dissociação ou fragmentação da psique. Ao unir o complexo à imagem do pai é necessário readequá-lo com base nas experiências pessoais com o pai e seu arquétipo, que terão influência em situações de vida e conteúdos psíquicos, o que pode levar a vivências desconstrutivas ou mobilizadoras, pelo filho ou filha. Assim chegamos à definição de complexo paterno enquanto “Grupo de idéias carregadas de sentimento, associadas com a experiência e a imagem do pai.”(SHARP, 1991 – p. 44).

Deuses Gregos - Universidade de Atenas, Grécia. Foto: Dimitrios / Shutterstock.com


Conforme apresentado acima a figura paterna na visão mitológica grega colabora para formação do complexo paterno. As imagens de pai vinculadas a Urano, Cronos, Hades e Poseidon são confrontadas com a imagem de pai mais próxima do ideal, representada por Zeus, como pai pessoal. Este confronto será presente na vida do sujeito como filho, especialmente na infância, colaborando para ampliação do complexo paterno do indivíduo.
Este processo ocorrerá em cada situação que o sujeito vivenciar momentos que remetam a lembrança de um trauma psíquico, afetando a relação do indivíduo com seu pai, como também a e imagem paterna. Estas situações poderão repetir-se com mais freqüência a partir da demanda da psique. Esta assim funciona para tornar consciente o campo paterno fragmentado. A psique usará de meios variados para fazer o sujeito voltar-se para este incômodo que o bloqueia em seu desenvolvimento.
As ferramentas mais comuns para tornar os complexos paternos conscientes são: os sonhos com suas figuras paternas, sintomas ligados à força e logos; repetições de situações corriqueiras que envolvam figuras paternas; espiritualidade descontrolada ou obsessiva, focada principalmente em imagens paternas; ligação com a vida social de forma desarmônica ou até mesmo dependência ou independência excessiva.
Neste campo social se por um lado o complexo pode se refletir em uma vida social distante, isolada, ausente, pobre, incomunicável em fala, sem interesse em
angariar posicionamentos sociais, desinteressada ou dificuldade no campo do estudo, etc. por outro lado, pode haver o oposto. Ou seja, uma vida social totalmente ativa, ligação a tudo quanto se refere ao social, apego intenso ao trabalho, desenvolvimento do saber ou estudo ou vida acadêmica de forma descontrolada, aparente tentativa de viver apenas do mundo objetivo, desinteressado ao mundo subjetivo e pessoal, foco na ambição, descrédito ou desfeita às regras e leis sociais ou legais, etc. Isto pode ser entendido pela relação do “... Pai Arquetípico e pai pessoal, pois se interpõe entre ambos o pai cultural. Uma das conseqüências disso é que o campo para as percepções e projeções relativas a conteúdos paternos é muito mais amplo que o equivalente materno.” (LIMA FILHO, 2002 – p. 135)
Resta destacar que em relação à filha o complexo do pai influenciará o desenvolvimento do Animus e projeção da anima do pai sobre a filha. Consequentemente, o complexo paterno provocará interferências na relação desta mulher-filha com os seus parceiros. Em relação ao filho, o complexo paterno limitará a formulação da sua persona e influenciará a formação da sua sombra. Isto acontece ao filho devido à relação do filho com o pai ser na dimensão da identificação, logo, o complexo paterno refletira na forma como este homem-filho expõe-se externamente e no social.
Percebo a presença do complexo paterno na minha experiência clínica, especialmente a imagem paterna ausente. Esta figura paterna compõe-se por atitude passiva e omissa nas relações com seu filho ou filha. Esta situação provoca insegurança no posicionamento e contato social, instabilidade emocional, falta de concretude na relação com ou como homem e, especialmente, a incerteza de ter tido um pai, mesmo com o pai presente. . Isto acontece toda vez que aparecem incômodas
ou desastrosas situações sociais, principalmente no trabalho, na formação acadêmica ou em relacionamentos afetivos.
Diante da figura do pai o filho ou filha precisa sentir-se em um terreno seguro e protegido. Quando isto não ocorre ou ocorre de maneira inoperante, o complexopaterno poderá encontrar espaço para acontecer e ter vida na psique. Este complexo precisa conseguir ser notado em tempo pela consciência. Assim a própria energia da psique auxiliará para adaptá-lo e encontrar seu caminho. Este se destina favorecer ao processo de individuação da pessoa, caso contrário, a psique ativará vários meios para este complexo ser notado e adaptado à individuação do sujeito. Nesta condição o seu âmbito de ação focará na sua relação do indivíduo com seu pai. Esta comunicação deve ser eficiente e promovedora da individuação da psique. Enquanto não ocorrer esta dinâmica, a psique precisará deixar presente seus recursos de lembranças e ativação do complexo paterno que está mobilizando-a. Mesmo que para isto a psique faça este processo ocorrer incessantemente via incontáveis símbolos ou imagens paternas na vida da filha ou filho.
CONCLUSÃO
A figura do pai é extremamente importante para o desenvolvimento do filho, por ser uma imagem vital! Devido a esta condição, a imagem do pai pode fragilizar a psique do filho. Quando isto acontece, é benéfico que o complexo paterno forme-se, e até mesmo amplie-se de forma indeterminada. É importante que psique e complexo paterno caminhem de forma harmônica, assim, este simplesmente ocorrerá como mais um artifício da psique colaboradora do processo de individuação. Para isto a imagem paterna precisará de uma nova reconfiguração ou adaptação na psique do sujeito. Mas desta vez em um formato com pulsações paternais mais positivas para psique e, consequentemente, para o indivíduo.


Artigo do III Módulo para aprovação em disciplina
ASSOCIAÇÃO JUNGUIANA DO BRASIL AJB/ APTA
CURSO: Especialização em Psicologia Junguiana - TUTOR: Vera Lúcia Gava
BRASÍLIA DISTRITO FEDERAL BRASIL 3o Semestre/ 2012
Psicóloga

REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA
JUNG, Carl G. Os arquétipos e o Inconsciente Coletivo. 4ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2006;
JUNG, Carl G. Psicogênese das doenças mentais. Rio de Janeiro: Vozes, 2011;
JUNG, Carl G. A natureza da psique 8/2. 8ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2011;
SHARP, Daryl. Léxico Junguiano Dicionário de termos e conceitos. 10ed. São Paulo: Cultrix, 1997;
SILVEIRA, Nise.Jung vida e obra. 17ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000; LIMA FILHO, Alberto. O pai e a psique. São Paulo: Paulus, 2002;
BOLEN, Jean Shinoda. Os Deuses e o Homem Uma nova psicologia da vida e dos amores masculinos. 3ed. São Paulo: Paulus, 2010;
DOWNING, Christine. Espelhos do Self As imagens arquetípicas que moldam a vida. São Paulo: Cultrix, 1998;